quarta-feira, 22 de abril de 2009

Existencialismo e Educação

PUCMG - UNIDADE SÃO GABRIEL
Psicologia - 7º período - manhã
1º Semestre/2009

Giane Alves de Melo e Assis Cunha
Luciana Maria Cezário Coelho
Maria da Piedade Cortes Rodrigues









Existencialismo e Educação





Trabalho elaborado para preparação de Seminário, solicitado na disciplina Psicologia e Educação, ministrada pela professora Mariana Sobreira Maciel, no 7º período do curso de Psicologia, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.






Belo Horizonte
Março 2009
































Nossos sinceros agradecimentos à professora Maria Madalena Magnabosco que se dispôs de muito boa vontade em nos auxiliar no Seminário sobre o Existencialismo e a Educação.

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
(Cora Coralina)

























"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".
(João Guimarães Rosa)
1. Introdução

Na concepção existencialista, o ser humano é consciência ativa e, portanto, construtor da realidade. Conseqüentemente, o ser humano é definido como um ser histórico e social, e o que o define enquanto tal é a reflexão do histórico-social como memória pessoal. Cada animal é sempre um primeiro animal, mas cada ser humano é seu meio histórico e social, e é, ademais, a reflexão e a contribuição à transformação ou inércia desse meio. Portanto, o ser humano é acima de tudo, um construtor; e é a intencionalidade humana o que move o mundo, que o transforma.
Já não se pode sustentar uma educação cuja concepção do ser humano seja a de um ser passivo, mero receptor ou reflexo de uma suposta “ordem natural” ou “condições objetivas” que o determinam mecanicamente. Mas hoje é claro que a educação vê o aluno ou “educando” como um sujeito passivo, receptor de conteúdos que lhe vão entregando. Menos evidente é que o educador também é visto como um sujeito passivo, que simplesmente deve resumir-se a aplicar planos e programas que têm sido desenvolvidos por funcionários da ordem e poder estabelecidos. Há uma concepção de paradigmas antigos, onde os conhecimentos passados são objetos externos ao sujeito. Os conhecimentos e a informação deveriam ser algo que se adquire porque outra pessoa o transmite, ou porque se busca e se adquire tal qual se entregue pela fonte que os origina. Nessa idéia, o conhecimento estaria fora do sujeito e este deveria ir buscá-lo. O conhecimento mais que um objeto externo, se constrói internamente.
Um dos objetivos deste trabalho é abordar os principais representantes do Existencialismo, enfatizando a contribuição de cada um para a educação e críticas que ajudam na construção de novas estratégias de aprendizagem e em sua aplicação prática na área educacional.
Os representantes do Existencialismo, Hegel, Sartre, Carl Rogers, Heidegger, Victor Frankl, Paulo Freire, Rubem Alves, dentre outros, afirmam que a educação verdadeira é aquela que possibilita o homem a construção de sua essência a partir da liberdade.
A educação deve transformar o homem em ser autêntico, e não em apenas mais um no “rebanho”. Portanto a educação como impositora de normas para a reprodução do sistema, não serve para o Existencialismo, pois transforma o homem em inautêntico já que o ensina a respeitar a moral da aceitação e da submissão.

2. A Educação pela Ótica de Alguns Representantes do Existencialismo

Na filosofia de Hegel, a educação é um tema fundamental. O conceito de educação em Hegel compreende em buscar reconciliar os extremos o tempo todo. Por isso, o absoluto passa necessariamente pela história e esta se encontra fundada em sua transcendência, isto é, no vir a ser. O divino obtém consistência por ser a essência do homem e da natureza. Ser como essência do outro é o que garante a realidade do eu.
Com respeito à educação, Heidegger a entende, não como um depósito de conhecimentos, mas como o aprender a apreender. Entendendo o aprender como o de um matemata (algo que pode ser aprendido), a educação, em vista do processo de ensino/aprendizagem, é aquilo que desenvolve meios para que, a partir de sucessivas aproximações à matéria, o discente aprenda a se conduzir no ato de conhecimento. Uma vez sabendo o modo de sua abordagem, é possível fazer conhecido o que era desconhecido e desafiador, compreendendo-o e, até mesmo, conduzindo outros autenticamente à mesma compreensão. O ensinar/aprender é, então, pensado como a descoberta e a consecutiva construção do conhecimento e não mais uma instrução. Empenhado em aprender, o discente é aquele que vê, remontada na tarefa do estudar, a própria existência. Pois, o aprender, bem como o existir, é a situação instável na qual ele sempre e a cada vez conquista seu mundo. Daí, o aprender estar associado ao risco existencial de ser ou não ser; e ao empenho de continuar sendo; da busca, nesse modo de existir, de algo que lhe seria próprio; de todos seus riscos, ao contrário do solo capaz de ser apontado seguro. Nesses termos, também na relação de aprendizagem, seria necessário o destemor para constatarmos que: “Nada somos; tudo é o que procuramos”.
A filosofia de Jean Paul Sartre é conhecida pela ênfase no indivíduo e na intransigente defesa da liberdade individual. O filosofo existencialista via a resistência como a qualidade que torna a liberdade possível. Segundo este filósofo, é o Outro que me torna um ser humano, sendo que este não é apenas um ser-para-si, mas, um ser-para-o-outro. Sartre defendia uma educação mais individualista, dialógica, libertária, com maior percepção social e mais zelosa com relação às necessidades e afirmação do individuo. Estas concepções nos fazem refletir sobre a autenticidade provocada pela forma de abordar a educação. Considerando que a autenticidade requer que estejamos plenamente conscientes de nosso ser-para-o-outro e que o aceitemos, mas não o podemos fazer sem o auxílio do Outro.
O autor Viktor E. Frankl produziu uma teoria chamada logoterapia. Inicialmente, a logoterapia esteve voltada à psicoterapia através do sentido da vida, porém seus postulados tomaram proporções maiores sendo utilizados em outros campos de conhecimento, como por exemplo, a Educação. Frankl escreveu mais de trinta e dois livros, sendo possível extrair de suas obras fundamentos educacionais que têm como suportes filosóficos a fenomenologia, o existencialismo e o humanismo existencial. Segundo o autor, a existência humana vacila, desmorona se não for vivida no cotidiano com sentido e com qualidade de auto-transcendência.
Na concepção de Carl Rogers, a aprendizagem deve ser significativa, o que acontece mais facilmente quando as situações são percebidas como problemáticas, portanto pode-se dizer que só se aprende aquilo que é necessário, não se pode ensinar diretamente a nenhuma pessoa.
Para Paulo Freire, o conhecimento não é algo passado de alguém que sabe tudo para alguém que está para aprender, mas algo que acontece do relacionamento do homem com o ambiente em que vive e mudando a própria história. Uma relação de troca cultural, pois aquele que aprende, transforma o mundo e a si mesmo.
O educar permite ao homem a construir sua trajetória, libertando-o do determinismo. Tendo em vista, a importância de considerar a história, o lugar individual e o coletivo, tais considerações facilitam ao educando dar significados reais às palavras. Não são apenas meras palavras, já que proporcionarão uma comunicação de aprendizagem entre os seres que constituem alma, desejo e sentimento.
Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo por ter a capacidade de transformar o mundo e sua história nesse mundo.
A educação caracterizada por este autor, é algo correspondente ao que ele chama de intencionalidade, ou seja, a capacidade do homem em extrair do mundo coisas que podem contribuir para o seu crescimento e desenvolvimento.
Na perspectiva de Rubem Alves, o estudo é focado mais nas reflexões acerca da verdadeira função da escola (problemática apontada pelo Existencialismo) do que na forma como se dá a aprendizagem em si.

3. Existencialismo e Educação

Em Hegel a educação é o meio pelo qual o homem supera o estado de natureza o qual não pode perder de vista porque é a referência para a superação. O homem existe entre a determinação do natural e a indeterminação do espírito. A natureza está marcada pelo dever ser enquanto o homem situa-se no poder ser. A educação potencializa a dinamicidade do espírito frente à natureza que deve ser objeto de ruptura para o homem. Este deve impor limites à natureza para assim contribuir também para a transcendência da mesma.
No contexto educacional, “uma boa base na filosofia sartreana poderia possibilitar que o educador dê às crianças a assistência de que precisam para tratar de maneira positiva os dilemas existenciais com os quais necessariamente se defrontarão” (BURSTOW, 2000).
Carl Rogers utiliza um método não estruturante de processo de aprendizagem, pelo qual o professor não interfere diretamente no campo cognitivo e afetivo do aluno. Na verdade, Rogers pressupõe que o professor dirija o estudante às suas próprias experiências, para que, a partir delas, o aluno se auto-dirija, ou seja, “caminhe com suas próprias pernas”. Rogers propõe a sensibilização, a afetividade e a motivação como fatores atuantes na construção do conhecimento. Uma das idéias mais importantes na obra de Rogers é a de que a pessoa é capaz de controlar seu próprio desenvolvimento e isso ninguém pode fazer para ela.
A educação caracterizada por Paulo Freire é algo correspondente ao que ele chama de intencionalidade, ou seja, a capacidade do homem em extrair do mundo coisas que podem contribuir para o seu crescimento e desenvolvimento.

3.1. Críticas à Educação e a Algumas Teorias Existencialistas Aplicadas à Educação

A concepção Hegel no ponto de vista da educação precisa ser tomada em seu contexto de origem, ou seja, é preciso reconhecer as limitações presentes nas posturas assumidas pelo próprio Hegel. Os desafios postos pela metodologia dialética em Hegel, pelas suas características de atualidade estão diretamente ligados a relação com o mundo através do trabalho; a relação entre o indivíduo e a sociedade como elemento formador; a formação humanista e a modernidade e a valorização do rigor e do conteúdo podem constituir aspectos que apresentem pertinência para o presente.
Benhamida afirma que no universo sartreano não há crianças, mas Sartre via a infância como a fase do impulso inicial e os primeiros anos como o período em que se faz a escolha fundamental.
A grande crítica à teoria de Rogers é feita pela utopia que ela implica, sua teoria é idealista, da corrente também denominada de romântica, irrealizável para seus críticos. Porém, na obra rogeriana são notáveis os seguintes aspectos: o desejo de mudança, a intenção de realização de algo concreto e a preparação da opinião pública para as mudanças possíveis.
De acordo com Rubem Alves, em muitos casos, a tarefa de educar é vista como uma imposição, instigando a formação de seres passivos, que apenas repetem fórmulas e conceitos, ao passo que deveria estimular a formação de pensadores, de pessoas autônomas, que sentem prazer em estudar, objetivando um futuro promissor.

3.2. Aplicação da Teoria Existencialista à Educação em Conformidade com Alguns Representantes Existencialistas

O conceito de educação tradicional está sendo rapidamente superado pela História. A educação, em tal caso, torna-se cada vez mais vazia de sentido. Se entendemos a educação com uma finalidade de instrução e transmissão de conhecimento, sua obsolescência é evidente ao existir meios muito mais eficazes e amplos de se ter acesso à informação como, por exemplo, as bibliotecas audiovisuais, as bases de dados, as redes informáticas, etc.
Para Hegel a escola é uma particularidade do absoluto que aparece na totalidade da história humana, porém toda parte constrói a totalidade ainda que não o queira. A missão da escola é a de ser mediação entre a família e o mundo e isto implica na preparação para a vida pública. A família já é o convívio entre diferentes, mas, na sociedade, os laços que unem as diferenças superam as determinações particulares pelos elos da razão e do espírito.
Segundo a perspectiva sartreana, a facticidade existe. Entretanto, Sartre vê tudo isso como interagindo e condicionando-se com essa liberdade original que é o individuo. Vê o educador obrigado a respeitar e até estimular essa liberdade. Defende uma educação intrinsecamente ligada às necessidades do indivíduo.
Carl Rogers enfatiza que na educação a função do professor é desenvolver uma relação pessoal com seus alunos e estabelecer nas aulas a realização de clima natural dessas tendências. Portanto o professor é um facilitador da aprendizagem significativa, fazendo parte do grupo e não estando colocado acima dele, este também é um dos pressupostos básicos da teoria de Rogers, ou seja, o aspecto interacional da situação de aprendizagem, visando às relações interpessoais e intergrupais.
O professor e o aluno são co-responsáveis pela aprendizagem, não havendo avaliação externa, a auto-avaliação deve ser incentivada; implica em uma filosofia democrática, organização pedagógica flexível é por meio de atos que se adquirem aprendizagens mais significativas, sendo uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança.
Em seus textos “Gaiola e asas” e “As tarefas da educação”, utilizando uma linguagem poética, Rubem Alves busca compreender e alertar a respeito da forma como a escola aborda a educação. Ele aponta os paradigmas encontrados na relação professor/aluno.

4. Considerações Finais

Para o Existencialismo a essência humana se constrói na existência concreta. O homem nasce sem essência, e somente depois, a partir de sua existência, irá construir sua essência como homem. Contudo, a educação não deve levar o homem, pois ele deverá conduzir-se. A educação então deverá lhe abrir a possibilidade, talvez lhe mostrar o caminho. E isto só é possível através de uma educação libertadora em todos os sentidos.
Muito se tem escrito sobre a perspectiva existencial em educação. Os principais autores são: Becker, Brown, Drews, Eble, Leeper, Leornard, Neill e Raths. Para esses autores o conceito de psicologia existencial em educação significa: "... educação que enfatiza a pessoa, suas potencialidades e individuação, sua auto-realização, sua descoberta de significado de vida”.(GREENING, 149). Rollo May expõe haver a necessidade de adaptar o sistema educacional ao contexto mundial. Hoje o que temos como contexto mundial é: uma crescente densidade populacional, um elevado nível de tecnologia e industrialização e a constante destruição da natureza. Com isso, temos que a adaptação que se necessita fazer na educação, no atual momento, é criar no indivíduo uma consciência, para que ele seja capaz de realizar suas próprias escolhas e que ele tem liberdade para fazê-las e se responsabilizar por tais escolhas.
A atual educação concebe o ser humano como ser racional, atribuindo à função intelectual maior preponderância sobre as funções emotivas e motrizes. Devido a essa concepção, o que se transmite é somente instrução, informação e/ou dados.
Para finalizar, pode-se constatar que um problema exposto por essa corrente é que a educação como criadora de consciência possui uma difícil tarefa que é reexaminar como fomos conduzidos até o atual momento e como podemos mudá-lo.


5. Referências

AGUILAR, Mario A. e BIZE, Rebeca B.“Geração De Educadores Pela Mudança E Pela Diversidade”. Santiago De Chile, março/98.

ALVES, Rubem. Gaiolas e asas. Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001 Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/gaiolaseasas.htm

BURSTOW, Bonnie: A filosofia sartreana como fundamento da educação. Educação e Sociedade vol.21, n.70: Campinas Apr.2000 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-73302000000100007&script=sci_arttext

CENTRO DE REFERÊNCIA EDUCACIONAL. Artigo sobre Carl Rogers e Educação. Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br/carl.html

MADEIRA, Allen W. Allen W. Wood. Hegel sobre a educação, Amélie O. Rorty (ed.) como filosofia da educação. London:Routledge, 1998.
MATURANA, Humberto. Artigo «Educar para colaborar ou para competir « Revista de Pedagogia, pág, 133; 1997)
Disponível em: http://www.geocities.com/eduriedades/rollomay.html, pesquisado em 10/03/09.
Disponível em: http://biblioteca.universia.net/html_bura/ficha/params/id/32042562.html, pesquisado em 10/03/09.
Convidada especial: Maria Madalena Magnabosco, professora do FEAD – Centro de Gestão Empreendedora, onde ministra as disciplinas de Metodologia Científica, Metodologia Científica II, Metodologia de pesquisa em psicologia do trânsito, Estágio Supervisionado Básico II, Psicologia do Desenvolvimento-Adolescência e Psicologia Social II. (e-mail: maria.magnabosco@terra.com.br)

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