TEORIAS E PRÁTICAS PSICOTERÁPICAS
RESUMO GERAL
10/08/2009
Perguntas da Fenomenologia:
Como?
Quando?
Para quê?
Obs.: a pergunta “por que” é da Psicanálise ou da Psicodinâmica (Freud, Lacan e Jung).
Alguns comentários na aula:
Os psicólogos fenomenológicos descrevem. Os psicodinâmicos interpretam.
Os objetivos básicos da clínica são: menos sofrimento e mais crescimento (capacidade individual).
Movimento estereotipado = aquele que gasta mais energia do que precisa.
Teoria Analítica Junguiana
Tipos de ego em Jung:
1. Rígido: não escuta o ics
2. Frágil: escuta demais o ics
3. Saudável (fortalecido): ouve o ics, mas faz a escolha
Conceitos Importantes:
Numem = quantum de energia em Jung.
Holístico = sistêmico. Muda-se para um, muda para todos.
Personalidade: ego + ics coletivo + ics individual (persona + anima/animus + sombra – estes são do inconsciente coletivo).
Ego: Cs.
Self: personalidade plenamente desenvolvida e unificada. O principal símbolo do self é a mandala ou círculo mágico. A maior descoberta de Jung é o conceito de self.
Ics coletivo: é universal. É muito voltado para o primitivo
Ics individual: é formado pelo depósito das experiências de tudo o que aconteceu com a pessoa.
Todo mito é um arquétipo. Só se faz presente quando uma situação chama por ele.
Arquétipo ou ics coletivo = é uma imagem carregada de energia que tem início, meio e fim. É mais primitivo que complexo. Ele aparece na vida da pessoa quando uma situação ambiental chama por ele. É formado pelo depósito de todas as experiências de todos os seres humanos.
Complexo = idéia carregada de energia boa ou ruim que não foi metabolizada. Este conceito é compartilhado para Freud e Jung.
Solução Homeostática = melhor solução que busque o equilíbrio. Homeostase através da compensação.
Alguns comentários na aula:
O ics junguiano manda recados.
Para Jung saúde é sinal de equilíbrio.
Todo conhecimento é parte do sujeito e parte do objeto.
Jung teve como base para a sua teoria, pacientes psiquiátricos.
Para Carl Gustav Jung a religião é essencial para a vida.
Para Jung a personalidade é construída ao longo da existência.
Para Jung toda energia é orgânica.
Para Jung todos os arquétipos são homeostáticos e compensatórios.
Trauma é algo muito forte que não se consegue elaborar. Seja coisa boa ou ruim. A energia fica fixada.
Sonho para a Teoria Analítica Junguiana é recado do ics.
O ics busca equilíbrio orgânico “mandando recados”.
Psicanálise
O ics freudiano realiza desejo.
Psicanálise do ego, Neo Psicanálise e Psicanálise dinâmica ou Psicodinâmica é a mesma coisa. A Psicanálise clássica é diferente das citadas.
Freud teve como base para a sua teoria, adultos neuróticos.
Para Freud, saúde é a capacidade de amar e trabalhar.
Para Freud a religião é uma alucinação coletiva. E toda alucinação é patológica.
Para Freud a personalidade forma na infância.
Para Freud toda energia é sexual.
Pulsão não é mental, é biológica. (na verdade parte do biológico para o psíquico)
Quando o desejo é oposto à vontade, apresenta-se através de ato falho, chiste e sonho.
Sonho para a Psicanálise é realização de desejo.
O ics é amoral, não tem julgamento de valor.
Não existe esquecimento. É ato falho.
Todo desejo tem uma representação (imagem) e um afeto (emoção ou sentimento). No deslocamento, a pulsão sexual é direcionada para um ou o outro.
A Psicanálise parte da premissa que o ics de todas as pessoas funciona da mesma forma, o que muda é o conteúdo. Por isso que o psicanalista pode interpretar.
Função paterna = remete à castração.
Função materna = remete a acolhimento.
Tudo o que não se consegue metabolizar, cria complexo, seja a falta ou o excesso.
A ética na Psicanálise é a ética do desejo. Não me submeto no desejo do psicanalista e ele não se submete ao meu desejo. Qualquer postura de dominação não é ética em Psicanálise.
Fases Psicossexuais::
1. Oral (passiva e agressiva): morder, por na boca, conhecer o mundo com a boca.
2. Anal: controle de soltar ou reter. Ex. guardar ou não dinheiro, segredo, informação.
3. Fálica: a criança descobre se tem ou não tem pinto. O prazer é autoerótico e só nos genitais
... Édipo/Electra...:
4. Latência:
5. Genital: não é mais autoerótica. As principais diferenças desta fase para a fálica são: Capacidade reprodutiva/O prazer é no corpo todo e não só nos genitais/Vê o outro como pessoa e não como objeto.
Temos um pouco de libido fixada em cada fase.
O primeiro amor da mulher é homossexual pela mãe, depois que troca de objeto.
A amizade é uma pseudo sublimação pq tem um interesse sexual.
Estruturas:
Psicose: não reconhece a lei porque não passou pela castração (forclusão).
Freud nunca atendeu o pequeno Hans, o pai dele que era atendido.
Neurose: a culpa é o que marca a neurose. Se sentir culpado está fora das estruturas psicótica e perversa. O neurótico sente culpa até do que não fez. Para Freud a culpa é saudável.
Perversão: conhece a lei, mas burla-a. O perverso tem medo da punição e esta é uma forma de tratá-lo, incutindo medo. O psicopata “fere” as pessoas. O sociopata “fere” as regras sociais.
Mecanismos de Defesa:
1. Atuação = colocar o desejo para funcionar, sem avaliar. Ex. tá com raiva de si mesmo e corta os pulsos. Outro ex. mandar o analista tomar naquele lugar.
2. Formação Reativa = fugir do próprio desejo fazendo o oposto. Ex. o cara gosta de gays e diz: _ odeio gays”
3. Introjeção
4. Negação (ab-negação) = não perceber algo de si. Falta de disconfiômetro. Não perceber algo nos outros com relação a si.
5. Projeção
6. Racionalização = é diferente de mentira. A pessoa cria uma desculpa para tamponar a falha ou o desejo que não realizou. Ex. ele me deixou pq não me merecia.
7. Recalque = o ego nunca viu o conteúdo.
8. Regressão = quando nasce um irmãozinho, a criança volta a fazer xixi na cama.
9. Repressão = o ego já viu o conteúdo, mas esqueceu. Ex. abuso sexual na infância. Já houve uma experiência.
10. Sublimação = usar a libido em qualquer atividade que não seja sexual. Ex. arte.
Técnicas Psicanalíticas:
1. Devolução da Pergunta = não se responde nenhuma pergunta pessoal em Psicanálise. Ex. se o cliente perguntar se vc é casado, devolva assim: que importância tem pra vc se eu sou casado?
2. Escuta flutuante = não presta atenção querendo escutar, mas nas pistas (imagens e afetos que surgem) e intervém na hora certa, qdo algo de significativo surge.
3. Associação Livre = não linear, não precisa ter nexo. Um símbolo remete a outro símbolo.
4. Interpretação: interpretação e pontuação têm um sentido amplo e um sentido restrito. Qdo usados como téc. estão no sentido restrito. Deve-se conciliar pelo menos duas partes para interpretar:
Vida Atual
Vida Pregressa (infância) Relação Transferencial
Sonho: O sonho não é aleatório. É preciso “conhecer” os desejos não realizados do cliente para poder interpretar o sonho. Não dá para interpretar pela universalidade, como em Jung.
5. Manejo do Silêncio
6. Manejo do Tempo (Freud e Lacan) = em Freud é começar e terminar a sessão no horário combinado. Quem não obedece à regra é perverso. Em Lacan não é cronológico. É o tempo ics, ou seja, enquanto não surgir algo do ics, não encerra a sessão. É o tempo lógico.
7. Pontuação = o significado está escondido no significante. Parte do pressuposto de Lacan que na linguagem o ics se estrutura. (O analista se atem a pontos-chaves da fala e busca implicar o cliente neles. Isto é pontuação no sentido amplo) Ex. a analisanda diz: depois (pois dê) que me separei (se/parei) de fulano, danei a comer biscoito (coito bis – o próprio biscoito é um símbolo fálico). O analista interpreta e pontua a resistência também. Ex. se o cliente disser: “vc só me atendeu 5 min”, o analista diz: “vc está me cobrando como se cobrasse de sua mãe, tchau e volte na semana que vem”.
O que está em evidência na relação direta do analisando com o analista é o que está evidente em sua vida nas outras relações.
O psicanalista clássico não é dialógico, só abre a boca para interpretar e pontuar.
Depois que se estabelece a transferência e pára de “fazer fofoca”, ou seja, passa a falar apenas de si mesmo e começa a associar livremente, já pode deitar no divã.
A ansiedade faz a análise ser produtiva.
Melanie Klein
Melanie Klein dizia que há uma escolha objetal primitiva antes da escolha edípica. A criança desiste da escolha edípica não só por medo da castração, mas por amor ao pai (menino) ou à mãe (menina).
Para M. Klein apenas a culpa não garante a saúde mental. A pessoa tem que sentir-se mal com a culpa e realizar um ato concreto de reparação para ter saúde.
Na Psicanálise kleiniana há a possibilidade do sujeito deixar de ser psicótico na análise porque se ele foi castrado no Édipo primitivo e não no freudiano, pode retomar a 1ª castração.
M. Klein não usa o conceito freudiano de estruturas e acredita numa maneira nova de funcionar.
Possibilidade é diferente de probabilidade.
DEFESAS BEM MAL
Histeria Fora Dentro
Paranóica Dentro Fora
Obsessiva Dentro Dentro
Fóbica Fora Fora
M. KLEIN FREUD
Crianças Adulto
Amor Medo
Reparação Culpa
Posição Estrutura
Fenomenologia
Gestalt-terapia e Terapia Centrada na Pessoa (TCP) ou Humanismo rogeriano
Ics em Gestalt é falta de ciência, alienação.
A intencionalidade está na ação e não na cabeça.
Sempre quando falar de mim ou de minha opinião, devo perguntar ao cliente o que ele sente sobre o que falei.
Uma escolha saudável não gera culpa, ansiedade e intui as possíveis conseqüências.
Em Fenomenologia não existe essência da coisa, só do fenômeno.
A essência do fenômeno é relacional. Não misturar com Sartre. “ A existência precede a essência”.
Individualismo é diferente de egoísmo, no sentido filosófico.
Existem 4 sentimentos básicos para a Gestalt e para ser normal tem que explodir das 4 maneiras: felicidade (riso), tristeza (choro), raiva (agressão=usar a energia para mostrar seu lugar no mundo) e prazer (gozo. Não precisa ser sexual).
O ser humano possui 4 bases: biológica, cultural, espiritual (valores e sentido da vida) e mental (desejos e racionalidade).
O ser humano é um processo, tanto na direção da saúde, quanto na direção da doença. Não existem estruturas. Não há determinismos.
Para Victor Frankl só traz sentido o que é autotranscendente, ou seja, a pessoa deve abandonar-se em detrimento de algo ou alguém.
Existem 4 maneiras possíveis de encontrar sentido para FRANKL: religiosidade (é diferente de religião, pode estar junto ou não), trabalho, amor e sofrimento autotranscendentes.
O ser humano é livre e responsável, holista, autopoiético e buscar por sentido.
Em Fenomenologia a pessoa não reage a mim, mas à relação comigo. Na relação eu-tu o hífen é o mais importante porque simboliza a relação.
Quanto mais forte estiver o cliente, mais eu posso confrontá-lo e quanto mais frágil, mais eu devo acolhê-lo.
O cliente precisa conhecer, aceitar e expressar os próprios sentimentos.
Homossexualismo egodistônico é problema porque a pessoa é e não se aceita. Pode aceitar (mais comum) ou mudar o objeto.
Em Fenomenologia neurose é sinônimo de patologia, doença.
Utiliza-se os conceitos de saudável e neurótico, como padrões de funcionamento. A pessoa pode ser ora um, ora outro.
Alguns teóricos usam três categorias:
1. Neurótico = dá mta atenção pra sociedade e pouca pra si.
2. Antissocial = se dá mta atenção e pouca para a sociedade.
3. Saudável = trata igualmente os campos fenomênicos interno e externo.
Escolha Saudável = não causa ansiedade, nem culpa e a pessoa é capaz de considerar as possíveis conseqüências. Se escolher para o outro, já é uma escolha neurótica a priori. Ex. a mulher trai o marido e não usa preservativo. A escolha saudável, considera a si e o outro.
A pessoa saudável mantém um padrão aprox. de 80% de saúde, o terapeuta deve ter um padrão de 90% para dar conta de auxiliar o outro.
Ansiedade em Fenomenologia = medo projetado no futuro.
14/10/2009
Método Fenomenológico:
1. Epoché: Suspender o juízo de valor.
2. Redução Eidética: descrever o que vê.
3. Redução Transcendental: procurar algo humano no fenômeno.
4. Hermenêutica Compreensiva: dar sentido a algo. Pedir ao cliente o significado.
Patologias:
1. Neurose (antissocial)
2. Alienação
3. Juízo de Valor
Técnicas Fenomenológicas:
1. Ampliação (só para quem está forte e agüenta confronto): além de ampliar, deve-se estereotipar. Exagerar no que o cliente traz. Ex. da porca gorda.
2. Constelação = parte-se do princípio da comunicação energética ou da comunicação ics/ics. Os participantes sabem reagir conforme os participantes reais. É como o psicodrama, mas o sujeito não dirige os outros participantes.
3. Derreflexão = O objetivo é eliminar a ansiedade secundária e trazer algo transcendente. A pessoa tem que abandonar a postura egocêntrica e assumir uma atitude autotranscendente. Concentrar no que existe de autotranscendente na conduta do cliente. Ex. se a pessoa tem vergonha de apresentar trabalho, basta pensar que vai ser útil para ensinar algo pra turma. Outro ex. é a disfunção sexual neurótica, ou seja, brochar por medo de brochar. É só concentrar no prazer do outro que resolve.
4. Espelhamento corporal = repetir o movimento ou postura corporal do cliente para desalienar.
5. Espelhamento Rogeriano ou verbal = o terapeuta aponta o que é central na fala da pessoa. Convém mais à TCP (Terapia Centrada na Pessoa), que nas outras abordagens fenomenológicas.
6. Feedback corporal = descrever, sem fantasiar, o que vc percebe no cliente.
7. Focalização = faz a pessoa entrar em contato consigo mesma de forma genuína e autêntica e naturalmente ela começa a metabolizar o autoconhecimento. Aceitar o que vc é hj. A pessoa deve focalizar no que é para metabolizar o sentimento.
8. Hermenêutica
9. Imaginação de vivências = leva a pessoa a imaginar como seria a experiência real para perceber se gosta ou não.
10. Intenção Paradoxal = o terapeuta propõe eliminar o medo secundário e exteriorizar o medo primário, rindo de vc mesmo. Ex. só qdo aparecer a barata ou o obj. do medo.
11. Monodrama
12. Polaridade ou Cadeira Vazia = é um monodrama. Lembrar do exemplo do médico que tinha que escolher entre casar, cuidar do pai doente ou aceitar uma proposta de trabalho para o Pará. O terapeuta coloca 3 cadeiras e cada hora o cliente senta em uma para tentar convencer as outras duas.
13. Presentificação = trazer situações do passado ou do futuro para o aqui-agora e perguntar como a pessoa sente-se.
14. Psicodrama = o sujeito central é o diretor. Ele que escolhe os papéis. É em grupo. Funciona como a cadeira vazia e o cliente escolhe quais pessoas do grupo vão ocupar as cadeiras.
15. Relação dialógica direta = o terapeuta fala o que sente ou como o corpo reage ou uma memória (fala de si e não do outro) e pergunta como o cliente se sente ao saber do que ele disse.
Relação terapauta-terapeutizando:
1. Aceitação incondicional = vale para o terapeuta e seu cliente. Aceitar os próprios sentimentos e os do terapeutizando (tudo, não só o sentimento)
2. Contatos regulados por ética (individual) e não moral (societária) = não trabalha a moral, mas a ética.
3. Empatia (Até existe transferência em Fenomenologia, mas o cliente não projeta o sentimento como se fosse um outro. É o terapeuta mesmo ou Entropia (usar o meu tesão para entender o tesão do cliente. É diferente de empatia (sentir com), que só considera o tesão do cliente.)
4. Eu-tu (prioritariamente)
5. Genuinidade = falar de si, demonstrar os seus sentimentos.
6. Horizontalidade = significa que deve haver a mínima diferença hierárquica possível entre o cliente e o terapeuta. É parecida com a relação eu-tu.
7. Relação Dialógica = o foco é na relação com o cliente e não o cliente.
8. Simpatia (posturas acolhedoras) e Antipatia (posturas confrontadoras)
Em Fenomenologia a relação terapêutica é mais importante que qualquer técnica.
O terapeuta para Rogers tem que ter genuinidade, aceitação incondicional e empatia ( entropia em gestalt).
Concordar é o mesmo que “eu faria igual”.
Aceitar é respeitar a escolha do outro.
26/10/2009
Contatos:
Todo contato acontece na fronteira, mas é percebido subjetivamente e a percepção pode ser na fronteira, dentro ou fora dela.
Fronteira = espaço de contato entre vc e o outro, entre o mundo interno e o externo, entre o indivíduo e o ambiente.
Contato dentro da fronteira
Os contatos são saudáveis, rotineiros, não geram aprendizagem de novos padrões comportamentais, não causa culpa, ansiedade e banca as possíveis conseqüências.
Contatos na fronteira:
Gera aumento da energia interna, o que os americanos chamam de exciment, ou ansiedade boa.
Contatos fora da fronteira:
Não significa sofrimento. Sofrimento é vida.
É tão agressivo que a pessoa não dá conta de assimilá-lo, gerando regressão, desaprendizagem.
É um contato neurótico porque a pessoa não banca as possíveis conseqüências.
A regressão é o que marca o contato fora da fronteira.
Alguns comentários na aula:
Drive = impulso, instinto, em Fenomenologia.
A pessoa controla o drive, não controla é o ato.
Sempre que o cliente estiver no mundo das idéias, temos que trazê-lo para uma experiência concreta. Ex. - Sou ciumenta!
- Como é sentir ciúme para vc?
Na relação terapêutica todos crescem.
É possível ser um bom terapeuta sem usar técnicas.
Segundo Rogers, um bom terapeuta tem genuinidade, aceitação incondicional e empatia.
É necessário assumir a responsabilidade pelos próprios sentimentos e não transferir a culpa. Ex.: quando vc disse isso eu fiquei puta e não pq vc disse isso eu fiquei puta.
Em Fenomenologia o terapeutizando pode saber sobre o terapeuta. Não tem problema se não houver mistura.
Sempre que falar de si, tem que perguntar como a pessoa se sente ao ouvir.
28/10/2009
A Fenomenologia considera 4 sentimentos básicos: alegria, tristeza, raiva e prazer sexual. Alguns teóricos consideram a dor também. Isso para qualquer ser humano em qualquer cultura.
Em Fenomenologia as perguntas diretas respondemos, as manipulativas, cortamos.
09/11/2009
Mecanismos Neuróticos:
1. Confluência = evita o conflito igualando-se ao outro ou o igualando a si. É por identificação.
2. Deflexão = ou joga no objeto errado (deflexão objetal), ou joga no objeto certo de modo errado (deflexão modal). A deflexão serve para diminuir a energia do sistema. Ex. chorar de raiva.
3. Introjeção = pega-se do ambiente ou de pessoas significativas, idéias e/ou valores, sem avaliar se serve ou não para si. Tem a ver com idéia de juízos de valores. É automático.
4. Projeção = a pessoa é alienada ou percebe e não aceita certa característica sua e a atribui a outro. Ex. Jogar em outro o medo que é seu. É sempre por diferença, já a confluência é por identificação
5. Retroflexão = a pessoa deveria direcionar a energia dela para o campo fenomênico externo, mas não consegue e direciona para o interno.
Obs.: sempre que der exemplo de retroflexão, deve-se explicitar o objeto certo da energia.
Alguns comentários na aula:
Assimilação = aprendizagem saudável, escolha de vida.
Oligofrênicos (déficit intelectual) e autistas não adianta fazer terapia Gestalt.
Referência:
KAITEL, Alexandre Frank. Aulas expositivas de Teorias e Práticas Psicoterápicas, BH, Ago a Nov/2009.
sábado, 5 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
"NORMOSE" (a doença de ser normal)
Todo mundo quer se encaixar num padrão.
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.
O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós?
Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas?
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.
A normose não é brincadeira.
Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Então, como aliviar os sintomas desta doença?
Um pouco de auto-estima basta.
Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais,
porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.
Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Michel Schimidt
Psicoterapeuta
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.
O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós?
Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas?
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.
A normose não é brincadeira.
Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Então, como aliviar os sintomas desta doença?
Um pouco de auto-estima basta.
Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais,
porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.
Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.
Michel Schimidt
Psicoterapeuta
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Orientador, Orientando e Outros Bichos
SANTOS, Clóvis Roberto dos;
NORONHA, Rogéria Toler da Silva de.
Monografias científicas: TCC, dissertação, tese. São Paulo: Avercamp, 2005.
Monografia: Orientador, Orientando e Outros Bichos
Adaptação de CLÓVIS ROBERTO DOS SANTOS
Num belo dia de sol, de uma enorme toca sai o Coelho com seu notebook e, embaixo de uma frondosa árvore, põe-se a trabalhar, com afinco, em sua monografia cientifica (TCC de graduação ou de especialização, dissertação de mestrado ou tese de doutorado, pouco Importa).
Tão distraído estava, que não percebeu o aproximar-se de uma Raposa, que não havia nem concluído o Ensino Fundamental.
Ao ver aquele coelhinho tão gordinho, a Raposa logo pensou: "Que belo e suculento almoço vou ter hoje, ficando, ao mesmo tempo, intrigada com a concentração e a Intensa atividade do Coelho.
Aproximando-se mais e, curiosa por natureza, ela pergunta:
- Coelhinho, o que você está fazendo aí com tanta atenção?
- Estou redigindo o final de minha monografia científica, que tem um tema bem intrigante e Inédito, "Os predadores naturais do reino animal, um estudo baseado no pragmatismo de Dewey e na gastronomia pantagruélica de RabeJais, com enfoque no materialismo lógico de Aristóteles". Minha apresentação (ou qualificação, ou defesa) será no final deste mês, e meu orientador é muito exigente.
Como você deve saber, os orientadores são realmente umas feras.
- E o que você está querendo provar com essa tal mono..., o que mesmo?
- Monografia, sua ignorante, que significa, conforme a etimologia grega da palavra, mono (um) e grafia (escrita), isto é, trabalho acadêmico escrito sobre um único tema. Tenho um problema: quem é realmente predador no reino dos animais?
Minha hipótese, agora, é a de que os coelhos é que são os predadores naturais das raposas.
- Oral Que ridícula essa sua hipo... não sei o quê I Nós, as raposas, é que somos predadores naturais de coelhos - observou a Raposa, superindignada.
- De jeito nenhum Queira, por favor, acompanhar-me até a toca ai em frente, que vou lhe mostrar minha prova experimental. É preciso demonstrar a cientificidade do trabalho para que minhas conclusões tenham validade perante os meios acadêmicos.
Em seguida, ambos entram na enorme toca. Imediatamente. Surgem de lá de dentro alguns ruídos estranhos e, depois, silêncio absoluto. Minutos depois, o Coelho volta sozinho, e continua a elaborar seu trabalho.
Tão compenetrado ficou, que não percebeu aproximar-se um enorme e faminto Lobo também, como a Raposa, analfabeto funcional: conseguiu terminar o II ciclo do Ensino Fundamental graças a tal de progressão continuada das escolas públicas estaduais de São Paulo), muito feliz por se deparar com tão fácil e belo jantar.
Porém, diante de tamanha concentração do Coelho, o Lobo resolve antes saber a razão de tudo aquilo e lhe pergunta:
- Olá, jovem coelhinho, o que faz você trabalhar com tanto entusiasmo?
- Minha monografia científica, Senhor Lobo. Neste momento, estou querendo provar minha hipótese de que os coelhos são os predadores naturais dos lobos.
- Coelhinho apetitoso e inocente, isto é um despropósito, embora nem saiba o que quer dizer monografia científica e muito menos hipótese, tema etc. Nós, lobos, é que somos os genuínos predadores de coelhos.
- Desculpe-me, mas, se você quiser, posso apresentar minha prova experimental. Acompanhe-me até a toca aí em frente.
O Lobo não conseguia acreditar na sua sorte. Uma bela refeição sem grandes esforços. Ambos entram e, alguns minutos depois, ouvem-se estranhos ruídos de mastigação e... o silêncio. O Coelho, de novo, sai da toca e continua seu trabalho.
Lá dentro da toca, vêem-se uma enorme pilha de ossos, sangue e restos de pêlos de raposa e de lobo. Ao lado da pilha, um enorme Leão, orientador, satisfeito, bem alimentado e feliz com o excelente desempenho do Coelho: um inteligente e competente orientando.
MORAL DA HISTÓRIA
Não importa quão absurdo seja o tema de sua monografia cientifica.
Não importa se seu trabalho tem ou não fundamento cientifico.
Não importa se sua pesquisa é científica e se foi bem feita.
Não importa se seus experimentos chegarão ou não a provar sua hipótese.
Não importa se suas idéias vão contra o mais Óbvio bom senso e os fundamentos lógicos ou científicos.
Não importa se suas conclusões vão agradar ou não a academia.
Não importa se você fez ou não todo o trabalho seguindo rigorosamente as regras da ABNT.
O que importa, mesmo, é quem é o seu orientador, que, quanto mais fera, melhor.
MORAL DA MORAL
ORIENTANDOS, não acreditem muito no que foi escrito acima, especialmente quanto à MORAL. Tudo, evidentemente, não passa de uma simples história. Vale a pena seguir sempre seu ORIENTADOR, mas ele não precisa ser tão fera quanto um leão.
NORONHA, Rogéria Toler da Silva de.
Monografias científicas: TCC, dissertação, tese. São Paulo: Avercamp, 2005.
Monografia: Orientador, Orientando e Outros Bichos
Adaptação de CLÓVIS ROBERTO DOS SANTOS
Num belo dia de sol, de uma enorme toca sai o Coelho com seu notebook e, embaixo de uma frondosa árvore, põe-se a trabalhar, com afinco, em sua monografia cientifica (TCC de graduação ou de especialização, dissertação de mestrado ou tese de doutorado, pouco Importa).
Tão distraído estava, que não percebeu o aproximar-se de uma Raposa, que não havia nem concluído o Ensino Fundamental.
Ao ver aquele coelhinho tão gordinho, a Raposa logo pensou: "Que belo e suculento almoço vou ter hoje, ficando, ao mesmo tempo, intrigada com a concentração e a Intensa atividade do Coelho.
Aproximando-se mais e, curiosa por natureza, ela pergunta:
- Coelhinho, o que você está fazendo aí com tanta atenção?
- Estou redigindo o final de minha monografia científica, que tem um tema bem intrigante e Inédito, "Os predadores naturais do reino animal, um estudo baseado no pragmatismo de Dewey e na gastronomia pantagruélica de RabeJais, com enfoque no materialismo lógico de Aristóteles". Minha apresentação (ou qualificação, ou defesa) será no final deste mês, e meu orientador é muito exigente.
Como você deve saber, os orientadores são realmente umas feras.
- E o que você está querendo provar com essa tal mono..., o que mesmo?
- Monografia, sua ignorante, que significa, conforme a etimologia grega da palavra, mono (um) e grafia (escrita), isto é, trabalho acadêmico escrito sobre um único tema. Tenho um problema: quem é realmente predador no reino dos animais?
Minha hipótese, agora, é a de que os coelhos é que são os predadores naturais das raposas.
- Oral Que ridícula essa sua hipo... não sei o quê I Nós, as raposas, é que somos predadores naturais de coelhos - observou a Raposa, superindignada.
- De jeito nenhum Queira, por favor, acompanhar-me até a toca ai em frente, que vou lhe mostrar minha prova experimental. É preciso demonstrar a cientificidade do trabalho para que minhas conclusões tenham validade perante os meios acadêmicos.
Em seguida, ambos entram na enorme toca. Imediatamente. Surgem de lá de dentro alguns ruídos estranhos e, depois, silêncio absoluto. Minutos depois, o Coelho volta sozinho, e continua a elaborar seu trabalho.
Tão compenetrado ficou, que não percebeu aproximar-se um enorme e faminto Lobo também, como a Raposa, analfabeto funcional: conseguiu terminar o II ciclo do Ensino Fundamental graças a tal de progressão continuada das escolas públicas estaduais de São Paulo), muito feliz por se deparar com tão fácil e belo jantar.
Porém, diante de tamanha concentração do Coelho, o Lobo resolve antes saber a razão de tudo aquilo e lhe pergunta:
- Olá, jovem coelhinho, o que faz você trabalhar com tanto entusiasmo?
- Minha monografia científica, Senhor Lobo. Neste momento, estou querendo provar minha hipótese de que os coelhos são os predadores naturais dos lobos.
- Coelhinho apetitoso e inocente, isto é um despropósito, embora nem saiba o que quer dizer monografia científica e muito menos hipótese, tema etc. Nós, lobos, é que somos os genuínos predadores de coelhos.
- Desculpe-me, mas, se você quiser, posso apresentar minha prova experimental. Acompanhe-me até a toca aí em frente.
O Lobo não conseguia acreditar na sua sorte. Uma bela refeição sem grandes esforços. Ambos entram e, alguns minutos depois, ouvem-se estranhos ruídos de mastigação e... o silêncio. O Coelho, de novo, sai da toca e continua seu trabalho.
Lá dentro da toca, vêem-se uma enorme pilha de ossos, sangue e restos de pêlos de raposa e de lobo. Ao lado da pilha, um enorme Leão, orientador, satisfeito, bem alimentado e feliz com o excelente desempenho do Coelho: um inteligente e competente orientando.
MORAL DA HISTÓRIA
Não importa quão absurdo seja o tema de sua monografia cientifica.
Não importa se seu trabalho tem ou não fundamento cientifico.
Não importa se sua pesquisa é científica e se foi bem feita.
Não importa se seus experimentos chegarão ou não a provar sua hipótese.
Não importa se suas idéias vão contra o mais Óbvio bom senso e os fundamentos lógicos ou científicos.
Não importa se suas conclusões vão agradar ou não a academia.
Não importa se você fez ou não todo o trabalho seguindo rigorosamente as regras da ABNT.
O que importa, mesmo, é quem é o seu orientador, que, quanto mais fera, melhor.
MORAL DA MORAL
ORIENTANDOS, não acreditem muito no que foi escrito acima, especialmente quanto à MORAL. Tudo, evidentemente, não passa de uma simples história. Vale a pena seguir sempre seu ORIENTADOR, mas ele não precisa ser tão fera quanto um leão.
sábado, 16 de maio de 2009
Estamira por Contardo Calligaris
ESTAMIRA
por Contardo Calligaris
publicado em 8/7/2006.
Odiamos o outro não por ele ser diferente, mas para ignorar que ele é parecido conosco
DURANTE QUATRO anos, Marcos Prado escutou Estamira, uma senhora de mais de 60 anos que vivia entre seu barraco (habitado e cuidado com a dignidade devida a uma casa) e seu lugar de trabalho (um aterro de lixo, onde ela passava dias e noites a fio).
Dessa experiência, Prado fez um filme, "Estamira", que é um extraordinário documento sobre a humanidade da loucura. Ele nos apresenta o território de Estamira (o mundo físico pelo qual ela anda), suas relações (de família e de amizade) e seu mundo íntimo, ou seja, o sentido que ela atribui ao seu ser.
Alguns psicólogos reconhecerão nessa tríade (mundo físico, relações e intimidade) as três categorias da psicologia existencial de Ludwig Binswanger. Pensei em Binswanger e na generosidade de sua clínica e de seu pensamento quando, comentando o filme, uma amiga e colega me disse: "Estamira é delirante, mas suas palavras, poéticas, fantásticas ou brutais, são coisas que ela diz não porque é psicótica, mas porque é ela, Estamira".
Que falemos lugares-comuns (como a maioria dos neuróticos) ou expressemos curiosas visões do mundo (como quem parece delirar), de qualquer forma, não há quadro clínico que possa (e deva) anular a unicidade de nossa presença no mundo, a dignidade do que se chamava, tempo atrás, nossa "pessoa". Marcos Prado permitiu que Estamira lhe (e nos) falasse porque quis e soube escutá-la como se escuta, em princípio, um semelhante. Com isso, o filme é absolutamente imperdível para quem, "psi" ou não, esteja disposto a se aproximar da loucura, ou melhor, a descobrir que o "louco" é estranhamente próximo da gente.
A cosmologia de Estamira (o além, o além do além, o mundo abarrotado que transborda) e sua religião (uma briga constante com Deus e com o Trocadilho, face diabólica e maldita do mesmo) não são menos verossímeis do que muitas de nossas crenças. A diferença é que nossas crenças são delírios que tiveram sucesso e ganharam credibilidade por serem compartilhados pela maioria.
Estamira (esse talvez seja o drama fundamental da loucura) deve inventar sozinha os meios de dar sentido à sua presença no mundo. Ela consegue essa façanha atribuindo-se o destino de ter de transmitir o que ela vê.
O Trocadilho, ao persegui-la, lhe deu uma missão, que é (como esperar outra coisa de um deus com esse nome?) um jogo de palavras: Estamira é esta mira, o olhar que tudo vê e tudo deve revelar. Missão cumprida, graças a Marcos Prado.
Corolário: quem não acredita na reforma psiquiátrica veja o filme e se pergunte: será que nossa sociedade pode tolerar a loucura só na margem extrema (o além do além) do lixão ou na clausura dos hospícios?
Quero mencionar um outro filme, antes que saia de cartaz. "Transamérica", de Duncan Tucker, é uma ficção e, à primeira vista, pouco tem a ver com "Estamira". Salvo que ambos os filmes nos forçam a descobrir destinos e jeitos de estar no mundo que são, no melhor dos casos, objetos de nossos olhares compassivos ou, mais freqüentemente, de exclusão, zombaria e ódio. O ódio, nesses casos, é o índice de uma cegueira proposital: odiamos o outro não por ele ser diferente de nós, mas para poder ignorar que ele é parecido conosco.
O herói (ou a heroína) de "Transamérica" é um transexual que, na hora em que obtém, enfim, o direito de ser operado e mudar de gênero, descobre que é pai de um filho adolescente. Difícil assistir ao filme sem entender de vez o seguinte: o drama de quem vive num corpo que lhe parece estrangeiro (por ser de um gênero no qual ele não se reconhece) tem pouco a ver com os avatares do desejo sexual. É um drama de identidade.
Algumas leituras para a fila do cinema. A Martins Fontes publica os seminários de Michel Foucault: no ano passado, "Os Anormais" e, neste ano, "O Poder Psiquiátrico". O Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos acaba de publicar "Política, Direitos, Violência e Homossexualidade, Pesquisa na Nona Parada do Orgulho GLBT São Paulo 2005", de Carrara, Ramos, Simões e Facchini. A pesquisa confirma que, em matéria de discriminação, o transexual, que discorda de seu próprio gênero, é a vítima preferida.
É difícil abandonar o conforto da crença de que nós somos os "normais". Mais difícil ainda é admitir que a anatomia de nosso corpo possa não bastar para nos dar a certeza de que somos homem ou mulher.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
Esquizofrenia na novela
http://www.youtube.com/watch?v=AswEClIcX4g
http://www.youtube.com/watch?v=xHMqXFQ0YsI
http://www.youtube.com/watch?v=AswEClIcX4g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=IV8y3yQaleI&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=vOmeBbNoyL4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=WVfJPCaFVks&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=zNbovPbjFHk&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=mD-IfNjNWGw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fRAcV6ptl3I&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=7oFWIuhbUI0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=YriE_vd4YZc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=PNMfw88w4BU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=5wF7QSmHSJ4&feature=related
site para baixar estes vídeos:
http://www.baixaki.com.br/busca.asp?q=atube&go.x=0&go.y=0
http://www.ziggi.com.br/downloads/atube-catcher.asp
http://www.youtube.com/watch?v=xHMqXFQ0YsI
http://www.youtube.com/watch?v=AswEClIcX4g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=IV8y3yQaleI&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=vOmeBbNoyL4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=WVfJPCaFVks&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=zNbovPbjFHk&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=mD-IfNjNWGw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fRAcV6ptl3I&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=7oFWIuhbUI0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=YriE_vd4YZc&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=PNMfw88w4BU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=5wF7QSmHSJ4&feature=related
site para baixar estes vídeos:
http://www.baixaki.com.br/busca.asp?q=atube&go.x=0&go.y=0
http://www.ziggi.com.br/downloads/atube-catcher.asp
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Psicanálise e Educação
PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO
Alexandre Carlos
Carolina Luciana Ferreira
Elissandra de Oliveira
Marcela Darley Mariano
Paulla Dyelli
Phillipe César
Telma Nara da Silva
Belo Horizonte
Abril 2009
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma relação entre a psicanálise e a educação, dois temas tão complexos e alguns diriam impossíveis de serem vinculados.
Sabemos que não é possível estudar os indivíduos, seus processos de desenvolvimento e aprendizagem somente a partir da construção da inteligência e da racionalidade. O comportamento humano é determinado, também e principalmente por forças inconscientes, construídas ao longo das relações do indivíduo com outros indivíduos. E também pode-se inferir que os subprodutos da relação da criança com sua sexualidade que são subprodutos que constituirão o alicerce afetivo da sua personalidade.
Há uma passagem da natureza (comportamento biologicamente determinado) para um estado da cultura (constituição da autoridade, da lei ou dos limites) no aspecto sócio-afetivo. Facetas como transformação da energia instintiva em motivações, organização estrutural da personalidade e desenvolvimento psicossexual estão presentes no desenvolvimento humano como um todo e são forte influência no processo educativo e de aprendizagem.
Psicanálise
A expressão psicanálise designa uma ciência, área de conhecimento, escola psicológica que busca penetrar na dimensão do psiquismo humano para conhecê-lo. Possui um método, um conjunto de procedimentos para o estudo profundo dos fenômenos humanos. Através da associação livre (método interpretativo) ocorre um tratamento psicológico (psicoterapia, terapia analítica ou psicanalítica). A psicanálise divide o aparelho psíquico em três regiões: o Id, o Ego e o Superego que compõem a personalidade. O comportamento, por sua vez, resultará da interação entre eles. Os três atuam conjuntamente apesar de seus diferentes mecanismos.
Educação
Educação por definição seria um processo de desenvolvimento de aptidões, de atitudes e de outras formas de conduta exigidas pela sociedade, um processo globalizado que visa à formação integral de uma pessoa, para o atendimento às necessidades e às aspirações de natureza pessoal e social. Seria, além disso, um conjunto de atividades destinadas a transmitir conhecimentos, a fomentar valores morais e a compreender princípios fundamentais aplicáveis ao longo da vida. É um processo de conscientização crítica do conhecimento. A educação, quando ocorre de maneira informal, confunde-se com o fenômeno do crescimento; ao processar-se em um ambiente determinado e controlado, pode ser formal e informal. A Educação não ocorre apenas na escola; ela é um processo permanente que se efetua na família, na comunidade, no trabalho, na comunicação social, enfim, na interação do homem com o meio.
O conceito de educação ao longo da vida deve ser encarado como uma construção contínua que envolva a capacidade de raciocínio e discernimento, os saberes e aptidões. O papel dos professores, enquanto agentes de mudança, é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, na formação de atitudes e na criação das condições necessárias para o sucesso da educação. Não basta transmitir conhecimentos aos alunos, é preciso adquirir uma visão crítica e reflexiva, despertando a curiosidade, a autonomia, o pesquisar, o desejo pelo conhecimento. Isto é dar condições para que os alunos “aprendam a aprender” para possibilitar uma educação ao longo da vida.
CONCEITOS IMPORTANTES EM PSICANÁLISE
Estruturas da Personalidade
Id: Reservatório de instintos e de toda energia do indivíduo. Representa o extrato biológico do homem e funciona segundo o princípio do prazer. Busca descarga imediata e total e não tolera frustrações ou inibições. Não possui lógica, razão, moral ou ética. Os desejos são onipotentes, não questionam adaptação física ou social. É quase em sua totalidade inconsciente. Freud tenta compreendê-lo através da análise dos sonhos, lapsos da via cotidiana, delírios, alucinações, da arte e dos rituais. O que interditará o Id serão o Ego e o Superego.
Ego: estruturas psíquicas de defesa e controle que surgem como conseqüência de embates do Id com a realidade. Governado pelo principio da realidade. Está a serviço do Id e da realidade procurando harmonizar suas demandas potencialmente conflitivas. O ego a partir deste desejo, procura na realidade formas de satisfação. Controla impulsos, retarda-os, os contem, reconcilia impulsos incompatíveis a fim de conseguir seus objetivos. Evita a descarga imediata dos instintos, fazendo o indivíduo suportar a frustração de um impulso não satisfeito. Seu desenvolvimento permite a pessoa pensar com lógica, dominando a capacidade de síntese, organizando a linguagem, desenvolvendo a memória e agindo diante da realidade, realizando trocas com o ambiente. O ego é a parte consciente e inconsciente.
Superego: exerce a ação controladora sobre o ego. Responsável pela internalização das normas, valores, costumes e padrões sociais. E a soma das restrições sociais com o que é valorizado socialmente. A criança ao nascer é simplesmente Id. Gradativamente, da necessidade de estabelecer trocas com o meio ambiente para satisfação dos impulsos instintivos, o Ego vai se formando. O Superego vai sendo introjetado mais tarde, não sendo, necessariamente uma representação exata das normais sociais, mas uma interpretação delas. O Superego é também chamado de Eu Ideal correspondendo a internalização dos ideais valorizados culturalmente. É a internalização das proibições sociais, e corresponde aos ideais sócias. É uma introjeção de parte do mundo externo que passa a fazer parte do interno. Efetua funções desempenhadas por outras pessoas: controla o Ego, dá ordens, julga-o, ameaça-o com punições, exatamente como os pais cujo lugar ocupou. Atua também sobre as intenções.
O Id e o Superego têm em comum a influencia do passado. O Id congrega a influência hereditária e o passado orgânico; O Superego a influencia das outras pessoas, ou do passado cultural. O Ego representa a experiência da própria pessoa.
Processos Mentais
Inconsciente: lugar teórico dos impulsos instintivos ou pulsões e das representações reprimidas ou daquelas que nunca chegaram a consciência. A nele energia instintiva livre, forças impulsionando a vida mental. São necessidades do organismo humano e do psiquismo como fome, sexo, curiosidade, etc. Há necessidades ou impulsos contrários às normas sociais como certos desejos sexuais e agressivos, onde a consciência censura não permitindo que sejam apresentados (recalque). O Id é propriamente inconsciente.
Consciente: é tudo que conhecemos. Percepção do mundo objetivo, lembranças, sentimentos, pensamentos, percepção do mundo objetivo. Um conteúdo mental para ter acesso a consciência precisa ser um acontecimento perceptível.
Pré - consciente: Sistema psíquico que serve de intermediário entre o inconsciente e a consciência. Nele estão às representações que podem se tornar conscientes. O pré-consciente tem função de selecionar os atos motores e as vias de pensamento para a consciência. As representações verbais ou sensoriais, do pré – consciente são facilmente acessíveis a consciência. O pré-consciente separa-se da consciência pela censura que não permite a passagem desses conteúdos para o pré-consciente sem sofrerem transformações.
Dinâmica da Personalidade e Fases do Desenvolvimento Sexual
Instinto: representação psicológica inata de uma fonte de excitação corpórea. A representação psicológica é o desejo e a excitação corpórea é a necessidade (como fome, sede, sexo, etc). É a quantidade de energia psíquica para movimentar as diferentes operações da personalidade. Tem sua sede no Id e origina-se no processo metabólico.
Instintos de Morte (pulsão de morte): São pulsões que tendem a reconduzir o ser vivo ao estado inorgânico. Quando voltadas para o interior tendem à autodestruição e quando dirigidas para o exterior manifestam-se sob a forma de agressividade e hostilidade.
Instintos de Vida (pulsão de vida): são os instintos que servem para a auto-conservação e perpetuação da espécie e que se contrapõem às pulsões de morte.
Castração: Complexo centrado na fantasia de castração, que vem trazer uma resposta à criança ao enigma decorrente da diferença anatômica entre os sexos (presença ou ausência de pênis). A diferença é atribuída ao corte do pênis das meninas. O complexo de castração está em íntima relação com o complexo de Édipo, especialmente na função de interdição.
O complexo de castração tem um lugar fundamental na evolução da sexualidade infantil. Sua estruturação e seus efeitos são diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração como a realização de uma ameaça paterna em resposta às suas atividades sexuais (cujo objeto original é a mãe), do que advém a intensa angústia de castração. Na menina, a ausência do pênis é vivenciada como um dano sofrido e que ela procura negar, compensar ou reparar.
Em relação ao complexo de Édipo, o complexo de castração também situa-se de maneira diferente em cada sexo: para a menina, a busca do pênis paterno (e seus equivalentes simbólicos, como ter um filho do pai) equivale ao momento de entrada no Édipo, enquanto que, no menino, o surgimento da angústia de castração sinaliza a crise final do Édipo, interditando à criança o objeto materno. A fantasia de castração é encontrada sob diferentes variações: o objeto ameaçado pode ser deslocado (cegueira de Édipo, arrancar os dentes, amputação de uma perna etc), o ato pode ser substituído por outros danos à integridade corporal (acidente, cirurgia, etc.) ou psíquica (loucura como conseqüência da masturbação) e o agente (pai) pode ser substituído (animais).
Seus efeitos clínicos vão desde a inveja do pênis, sentimento de inferioridade, tabu da virgindade, algumas fenômenos psicopatológicos presentes no homossexualismo e no fetichismo até à impotência e frigidez.
Projeção: Mecanismo de defesa que consiste em atribuir inconscientemente características e sentimentos a outros e perceber no mundo exterior suas próprias pulsões e seus conflitos interiores.
Recalque: é o mecanismo pelo qual o indivíduo procura reter no inconsciente representações ligadas a um instinto ou pulsão.
Transferência: processo psicológico que consiste em transferir para pessoas ou objetos neutros emoções e atitudes que existem no indivíduo desde a infância. Trata-se de uma relação afetiva particular da terapia analítica em que o paciente estabelece com o terapeuta ou professor (no caso) para reviver suas experiências passadas.
Libido: designação de energia sexual, ou seja, é a energia que constitui o substrato das transformações dos impulsos sexuais.
Fase Oral: primeira fase da organização da libido, na qual a zona oral (boca, lábios, língua) desempenha papel principal.
Fase Anal: segunda fase da organização da libido, na qual a primazia do prazer se encontra no ânus.
Fase Fálica: terceira fase da organização da libido, na qual o pênis é o objeto de interesse das crianças de ambos os sexos. “Fálico” origina-se do falo, que é a representação psíquica do poder, do pênis.
Fase Genital: quarta fase do desenvolvimento psicossexual, ou da organização da libido. As zonas erógenas das fases anteriores ficam subordinadas à pulsão sexual voltada para a reprodução.Há então uma consolidação da identidade e estabelecimento de uma moralidade autônoma e um compartilhamento do prazer com um outro indivíduo.
Contribuições da Psicanálise à Educação
Freud nutria a esperança de que a psicanálise, uma teoria explicativa da natureza, do funcionamento e da forma do desenvolvimento do psiquismo, pudesse contribuir para reformar os métodos e objetivos educacionais, exercendo assim uma ação profilática.
A educação é comentada na obra de Freud de forma dispersa. Entretanto, Freud parece refletir sobre a educação e sua importância vendo sua complexidade, chegando a afirmar que educar, ao lado de governar e ser psicanalista, é uma profissão impossível. A psicanálise se preocupa com a educação na medida em que percebe a importância dela para a organização psíquica do sujeito. Termos como recalque, castração, transferência são fundamentais também para um processo de aprendizagem.
Hoje há atos violentos cometidos pelos alunos em oposição à escola e ao professor. Existe uma violência simbólica e muitas vezes literal pela falta e desrespeito à Lei, antes “propriedade” do pai, hoje de outras instituições fora a família. Há também um autoritarismo na ilusão de substituir a autoridade e o respeito da parte dos educadores. Notamos hoje que o lugar do detentor do saber, que era o lugar e o privilégio do Outro, está “desinvestido”, e inclusive a dimensão da transferência hoje na relação professor-aluno.
Para que a criança tenha o desejo de aprender fica-se na dependência da posição em que o Outro (professor) se coloca em relação ao saber. Depende, além disso, de que aquilo que ela venha a receber do Outro, como modelos de identificação, significações que ordenem o real, esteja em posição significante, que façam a diferença na vida da criança, na sua realidade.
Hoje é preciso ter na interseção entre a Psicanálise e a Educação um olhar atento para a relação que se estabelece entre o educando e o educador e também a respeito das características sócio culturais da realidade.
Educação e transferência
Freud elaborou o conceito de transferência que é um fenômeno presente em toda situação em que duas pessoas se relacionam frente a frente. Esse fenômeno foi observado no tratamento analítico, entre o paciente e o médico como relação emocional especial porque vaia além dos limites racionais, variando de devoção e admiração até inimizade e hostilidade, sendo considerada, portanto, tanto positiva como negativa, um poderoso instrumento terapêutico desempenhando papel relevante no processo de cura.
Ela também ocorre na relação professor-aluno e nos permite refletir sobre o que possibilita ao aluno acreditar no professor e chegar a aprender. É um poderoso instrumento no processo de aprendizagem e é uma contribuição essencial da Psicanálise à educação.
A aprendizagem, que é um processo que vem junto à cultura, das práticas sociais no meio, passada a princípio pelos pais, é também passada pelas instituições, como exemplo as creches e escolas. E é a partir disso que se constrói um lugar de interação entre aquele que ensina e aquele que aprende.
O mestre (professor) deve então ser um mediador que faz todo um exercício profissional que se estende sob uma rede imaginária e simbólica que liga, articula, organiza, valoriza, prestigia e, portanto, atribui significação à prática individual de seus participantes (alunos). Nessa relação dos professores com sua função, com o saber e com o ensinar, ocorre um processo de transferência com o aluno, uma relação marcada pelo desejo tanto de um lado quanto de outro. E é através disso que há a possibilidade da transmissão dos conhecimentos, desse desejo de passar o saber aos seus alunos.
Educação, impulsos sexuais e sublimação
Observam-se aspectos flexíveis na sexualidade humana. Um impulso sexual não possui fixação e o objeto de satisfação é indiferente podendo ser uma mulher, ou uma parte de seu corpo, no caso da mãe que o seio que satisfaz o filho, ou mesmo para os fetichistas, os pés por exemplo. O objeto é desviante, intercambiável e pode ser direcionado para fins não sexuais, como ocorre na sublimação.
A sublimação implica no desvio de uma pulsão do desejo diretamente sexual para um fim socialmente útil. Por intermédio do mecanismo de sublimação os indivíduos podem dedicar-se a atividades relacionadas à arte, a ciência, a promoção de valores humanos e de melhores condições de vida. Há um investimento de libido, mas esta energia sexual não é utilizada para a finalidade sexo. O prazer na realização de uma tarefa traz a marca sutil da origem sexual no empenho e na paixão com que alguns indivíduos se dedicam.
Com relação à sexualidade, inicialmente Freud associou a doença nervosa a uma educação moral repressora. As noções de pecado, pudor, vergonha inibiram os impulsos sexuais limitando seu desenvolvimento. A psicanálise pode contribuir com a educação delimitando uma de suas tarefas: conseguir o equilíbrio usando sua autoridade na correção educativa necessária, mas não de forma excessiva, o que traria maior sensação de desprazer. O limite dos impulsos sexuais seria o recalque, visando a preservação do indivíduo e de sue grupo.
É importante que o educador saiba utilizar a energia dos impulsos. No caso do voyeur é preciso fazê-lo contemplar o mundo e os objetos a sua volta, compreendê-los e estabelecer um novo saber que transforme curiosidade em desejo de conhecimento, em curiosidade intelectual. É fundamental que o professor não recrimine a criança (com pulsão de sucção) por levar à boca qualquer tipo de objeto, mas lhe forneça conhecimento, atividades lúdicas e artísticas, a fim de nutri-la intelectualmente. Esta é a proposta da psicanálise: utilizar as características e os instintos do indivíduo para fins úteis à sociedade mediante sublimação, fazendo com que o educador possa buscar com o educando o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades coletivas.
A educação deveria ser considerada um estímulo para a submissão do princípio do prazer ao princípio da realidade. Uma educação para a realidade teria como objetivo impedir o homem de permanecer na infância levando-o a enfrentar a vida.
CONCLUSÃO
A aplicação da psicanálise à educação
A Psicanálise pode ser útil aos educadores à medida que serve como fonte de compreensão do desenvolvimento psíquico e afetivo do ser humano. É uma abordagem que trata das questões do desenvolvimento psicossexual infantil, das relações da criança com a família, do educando com o educador, quando trata-se da transferência, bem como da economia psíquica do educador. A Psicanálise pode oferecer condições para o professor lidar com o aluno em sala de aula, na situação de aprendizagem, podendo levar a melhorias do desempenho das próprias funções.
Uma discussão interessante é a respeito da relação de autoridade em sala de aula, dos vínculos criados a partir dessa relação, na qual o educador deve renunciar ao controle aversivo sobre os educandos. Outra questão é até que ponto a relação transferencial entre professor e aluno está interferindo na aprendizagem, ou seja, no trabalho pedagógico como um todo.
O inconsciente exerce uma função no aprendizado do indivíduo, já que é para lá que alguns conteúdos irão, não ficando disponíveis ao consciente do aluno, de modo que ele não consegue expor certas idéias, embora estas tenham um simbolismo muito importante. Além de deixar o professor em um lugar de não saber se o aluno realmente aprendeu determinado conteúdo.
A noção de sujeito de desejo em psicanálise, segundo Maciel (2005), refere-se ao fato deste se relacionar não só com objetos de necessidade, mas também com objetos de desejo que passam pelos significados construídos nas interações que os sujeitos estabelecem entre si. É importante que se tome cuidado para não moldar a criança ao ideal do eu do educador, ou seja, os professores quererem modificar o aluno à sua imagem, tomando para si a função de modelo.
Outra contribuição da psicanálise à educação refere-se ao papel da educação como auxiliar da sublimação sexual, já que, para Freud, a curiosidade intelectual é derivada da curiosidade sexual. Mas, deve-se tomar certo cuidado para que o desvio pulsional não seja excessivo, inibindo o sujeito de desejo.
Um alerta é dado: o professor não tem controle total dos efeitos de suas palavras sobre os alunos, portanto, não saberá o que o aluno fará com aquelas idéias e com o que as associará. Dessa forma, se faz importante que o professor tenha conhecimento do poder de influência que exerce e das formas mais adequadas para lidar com isso.
REFERÊNCIA:
- Ministério da Educação e Cultura. Serviço de estatística educacional. Cuiabá: SEC/MT; Rio de Janeiro: FENAME, 1981. Disponível em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=105836&te3=122199&te4=36676. 02/04/2009.
- CARRARA, Kester (org.). Introdução a Psicologia da Educação: Seis Abordagens. Editora: AVERCAMP. São Paulo, 2004.
- CUNHA, Marcus Vinícius da. A Psicologia na Educação: dos paradigmas científicos às finalidades educacionais. Revista da faculdade de Educação. V.24 n.2 .São Paulo. Jul/dez. 1998.
- MACIEL, Maria Regina. Sobre a relação entre Educação e Psicanálise no contexto das novas formas de subjetivação. Interface- comunicação, saúde e educação. v.9 n.17 mar/ago 2005.
- COUTINHO, Maria Tereza da Cunha & MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação: Um estudo dos processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos voltado para a educação. 10 ed. Ver. E ampl. – Belo Horizonte: Formato Editorial, 2004.
Alexandre Carlos
Carolina Luciana Ferreira
Elissandra de Oliveira
Marcela Darley Mariano
Paulla Dyelli
Phillipe César
Telma Nara da Silva
Belo Horizonte
Abril 2009
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma relação entre a psicanálise e a educação, dois temas tão complexos e alguns diriam impossíveis de serem vinculados.
Sabemos que não é possível estudar os indivíduos, seus processos de desenvolvimento e aprendizagem somente a partir da construção da inteligência e da racionalidade. O comportamento humano é determinado, também e principalmente por forças inconscientes, construídas ao longo das relações do indivíduo com outros indivíduos. E também pode-se inferir que os subprodutos da relação da criança com sua sexualidade que são subprodutos que constituirão o alicerce afetivo da sua personalidade.
Há uma passagem da natureza (comportamento biologicamente determinado) para um estado da cultura (constituição da autoridade, da lei ou dos limites) no aspecto sócio-afetivo. Facetas como transformação da energia instintiva em motivações, organização estrutural da personalidade e desenvolvimento psicossexual estão presentes no desenvolvimento humano como um todo e são forte influência no processo educativo e de aprendizagem.
Psicanálise
A expressão psicanálise designa uma ciência, área de conhecimento, escola psicológica que busca penetrar na dimensão do psiquismo humano para conhecê-lo. Possui um método, um conjunto de procedimentos para o estudo profundo dos fenômenos humanos. Através da associação livre (método interpretativo) ocorre um tratamento psicológico (psicoterapia, terapia analítica ou psicanalítica). A psicanálise divide o aparelho psíquico em três regiões: o Id, o Ego e o Superego que compõem a personalidade. O comportamento, por sua vez, resultará da interação entre eles. Os três atuam conjuntamente apesar de seus diferentes mecanismos.
Educação
Educação por definição seria um processo de desenvolvimento de aptidões, de atitudes e de outras formas de conduta exigidas pela sociedade, um processo globalizado que visa à formação integral de uma pessoa, para o atendimento às necessidades e às aspirações de natureza pessoal e social. Seria, além disso, um conjunto de atividades destinadas a transmitir conhecimentos, a fomentar valores morais e a compreender princípios fundamentais aplicáveis ao longo da vida. É um processo de conscientização crítica do conhecimento. A educação, quando ocorre de maneira informal, confunde-se com o fenômeno do crescimento; ao processar-se em um ambiente determinado e controlado, pode ser formal e informal. A Educação não ocorre apenas na escola; ela é um processo permanente que se efetua na família, na comunidade, no trabalho, na comunicação social, enfim, na interação do homem com o meio.
O conceito de educação ao longo da vida deve ser encarado como uma construção contínua que envolva a capacidade de raciocínio e discernimento, os saberes e aptidões. O papel dos professores, enquanto agentes de mudança, é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, na formação de atitudes e na criação das condições necessárias para o sucesso da educação. Não basta transmitir conhecimentos aos alunos, é preciso adquirir uma visão crítica e reflexiva, despertando a curiosidade, a autonomia, o pesquisar, o desejo pelo conhecimento. Isto é dar condições para que os alunos “aprendam a aprender” para possibilitar uma educação ao longo da vida.
CONCEITOS IMPORTANTES EM PSICANÁLISE
Estruturas da Personalidade
Id: Reservatório de instintos e de toda energia do indivíduo. Representa o extrato biológico do homem e funciona segundo o princípio do prazer. Busca descarga imediata e total e não tolera frustrações ou inibições. Não possui lógica, razão, moral ou ética. Os desejos são onipotentes, não questionam adaptação física ou social. É quase em sua totalidade inconsciente. Freud tenta compreendê-lo através da análise dos sonhos, lapsos da via cotidiana, delírios, alucinações, da arte e dos rituais. O que interditará o Id serão o Ego e o Superego.
Ego: estruturas psíquicas de defesa e controle que surgem como conseqüência de embates do Id com a realidade. Governado pelo principio da realidade. Está a serviço do Id e da realidade procurando harmonizar suas demandas potencialmente conflitivas. O ego a partir deste desejo, procura na realidade formas de satisfação. Controla impulsos, retarda-os, os contem, reconcilia impulsos incompatíveis a fim de conseguir seus objetivos. Evita a descarga imediata dos instintos, fazendo o indivíduo suportar a frustração de um impulso não satisfeito. Seu desenvolvimento permite a pessoa pensar com lógica, dominando a capacidade de síntese, organizando a linguagem, desenvolvendo a memória e agindo diante da realidade, realizando trocas com o ambiente. O ego é a parte consciente e inconsciente.
Superego: exerce a ação controladora sobre o ego. Responsável pela internalização das normas, valores, costumes e padrões sociais. E a soma das restrições sociais com o que é valorizado socialmente. A criança ao nascer é simplesmente Id. Gradativamente, da necessidade de estabelecer trocas com o meio ambiente para satisfação dos impulsos instintivos, o Ego vai se formando. O Superego vai sendo introjetado mais tarde, não sendo, necessariamente uma representação exata das normais sociais, mas uma interpretação delas. O Superego é também chamado de Eu Ideal correspondendo a internalização dos ideais valorizados culturalmente. É a internalização das proibições sociais, e corresponde aos ideais sócias. É uma introjeção de parte do mundo externo que passa a fazer parte do interno. Efetua funções desempenhadas por outras pessoas: controla o Ego, dá ordens, julga-o, ameaça-o com punições, exatamente como os pais cujo lugar ocupou. Atua também sobre as intenções.
O Id e o Superego têm em comum a influencia do passado. O Id congrega a influência hereditária e o passado orgânico; O Superego a influencia das outras pessoas, ou do passado cultural. O Ego representa a experiência da própria pessoa.
Processos Mentais
Inconsciente: lugar teórico dos impulsos instintivos ou pulsões e das representações reprimidas ou daquelas que nunca chegaram a consciência. A nele energia instintiva livre, forças impulsionando a vida mental. São necessidades do organismo humano e do psiquismo como fome, sexo, curiosidade, etc. Há necessidades ou impulsos contrários às normas sociais como certos desejos sexuais e agressivos, onde a consciência censura não permitindo que sejam apresentados (recalque). O Id é propriamente inconsciente.
Consciente: é tudo que conhecemos. Percepção do mundo objetivo, lembranças, sentimentos, pensamentos, percepção do mundo objetivo. Um conteúdo mental para ter acesso a consciência precisa ser um acontecimento perceptível.
Pré - consciente: Sistema psíquico que serve de intermediário entre o inconsciente e a consciência. Nele estão às representações que podem se tornar conscientes. O pré-consciente tem função de selecionar os atos motores e as vias de pensamento para a consciência. As representações verbais ou sensoriais, do pré – consciente são facilmente acessíveis a consciência. O pré-consciente separa-se da consciência pela censura que não permite a passagem desses conteúdos para o pré-consciente sem sofrerem transformações.
Dinâmica da Personalidade e Fases do Desenvolvimento Sexual
Instinto: representação psicológica inata de uma fonte de excitação corpórea. A representação psicológica é o desejo e a excitação corpórea é a necessidade (como fome, sede, sexo, etc). É a quantidade de energia psíquica para movimentar as diferentes operações da personalidade. Tem sua sede no Id e origina-se no processo metabólico.
Instintos de Morte (pulsão de morte): São pulsões que tendem a reconduzir o ser vivo ao estado inorgânico. Quando voltadas para o interior tendem à autodestruição e quando dirigidas para o exterior manifestam-se sob a forma de agressividade e hostilidade.
Instintos de Vida (pulsão de vida): são os instintos que servem para a auto-conservação e perpetuação da espécie e que se contrapõem às pulsões de morte.
Castração: Complexo centrado na fantasia de castração, que vem trazer uma resposta à criança ao enigma decorrente da diferença anatômica entre os sexos (presença ou ausência de pênis). A diferença é atribuída ao corte do pênis das meninas. O complexo de castração está em íntima relação com o complexo de Édipo, especialmente na função de interdição.
O complexo de castração tem um lugar fundamental na evolução da sexualidade infantil. Sua estruturação e seus efeitos são diferentes no menino e na menina. O menino teme a castração como a realização de uma ameaça paterna em resposta às suas atividades sexuais (cujo objeto original é a mãe), do que advém a intensa angústia de castração. Na menina, a ausência do pênis é vivenciada como um dano sofrido e que ela procura negar, compensar ou reparar.
Em relação ao complexo de Édipo, o complexo de castração também situa-se de maneira diferente em cada sexo: para a menina, a busca do pênis paterno (e seus equivalentes simbólicos, como ter um filho do pai) equivale ao momento de entrada no Édipo, enquanto que, no menino, o surgimento da angústia de castração sinaliza a crise final do Édipo, interditando à criança o objeto materno. A fantasia de castração é encontrada sob diferentes variações: o objeto ameaçado pode ser deslocado (cegueira de Édipo, arrancar os dentes, amputação de uma perna etc), o ato pode ser substituído por outros danos à integridade corporal (acidente, cirurgia, etc.) ou psíquica (loucura como conseqüência da masturbação) e o agente (pai) pode ser substituído (animais).
Seus efeitos clínicos vão desde a inveja do pênis, sentimento de inferioridade, tabu da virgindade, algumas fenômenos psicopatológicos presentes no homossexualismo e no fetichismo até à impotência e frigidez.
Projeção: Mecanismo de defesa que consiste em atribuir inconscientemente características e sentimentos a outros e perceber no mundo exterior suas próprias pulsões e seus conflitos interiores.
Recalque: é o mecanismo pelo qual o indivíduo procura reter no inconsciente representações ligadas a um instinto ou pulsão.
Transferência: processo psicológico que consiste em transferir para pessoas ou objetos neutros emoções e atitudes que existem no indivíduo desde a infância. Trata-se de uma relação afetiva particular da terapia analítica em que o paciente estabelece com o terapeuta ou professor (no caso) para reviver suas experiências passadas.
Libido: designação de energia sexual, ou seja, é a energia que constitui o substrato das transformações dos impulsos sexuais.
Fase Oral: primeira fase da organização da libido, na qual a zona oral (boca, lábios, língua) desempenha papel principal.
Fase Anal: segunda fase da organização da libido, na qual a primazia do prazer se encontra no ânus.
Fase Fálica: terceira fase da organização da libido, na qual o pênis é o objeto de interesse das crianças de ambos os sexos. “Fálico” origina-se do falo, que é a representação psíquica do poder, do pênis.
Fase Genital: quarta fase do desenvolvimento psicossexual, ou da organização da libido. As zonas erógenas das fases anteriores ficam subordinadas à pulsão sexual voltada para a reprodução.Há então uma consolidação da identidade e estabelecimento de uma moralidade autônoma e um compartilhamento do prazer com um outro indivíduo.
Contribuições da Psicanálise à Educação
Freud nutria a esperança de que a psicanálise, uma teoria explicativa da natureza, do funcionamento e da forma do desenvolvimento do psiquismo, pudesse contribuir para reformar os métodos e objetivos educacionais, exercendo assim uma ação profilática.
A educação é comentada na obra de Freud de forma dispersa. Entretanto, Freud parece refletir sobre a educação e sua importância vendo sua complexidade, chegando a afirmar que educar, ao lado de governar e ser psicanalista, é uma profissão impossível. A psicanálise se preocupa com a educação na medida em que percebe a importância dela para a organização psíquica do sujeito. Termos como recalque, castração, transferência são fundamentais também para um processo de aprendizagem.
Hoje há atos violentos cometidos pelos alunos em oposição à escola e ao professor. Existe uma violência simbólica e muitas vezes literal pela falta e desrespeito à Lei, antes “propriedade” do pai, hoje de outras instituições fora a família. Há também um autoritarismo na ilusão de substituir a autoridade e o respeito da parte dos educadores. Notamos hoje que o lugar do detentor do saber, que era o lugar e o privilégio do Outro, está “desinvestido”, e inclusive a dimensão da transferência hoje na relação professor-aluno.
Para que a criança tenha o desejo de aprender fica-se na dependência da posição em que o Outro (professor) se coloca em relação ao saber. Depende, além disso, de que aquilo que ela venha a receber do Outro, como modelos de identificação, significações que ordenem o real, esteja em posição significante, que façam a diferença na vida da criança, na sua realidade.
Hoje é preciso ter na interseção entre a Psicanálise e a Educação um olhar atento para a relação que se estabelece entre o educando e o educador e também a respeito das características sócio culturais da realidade.
Educação e transferência
Freud elaborou o conceito de transferência que é um fenômeno presente em toda situação em que duas pessoas se relacionam frente a frente. Esse fenômeno foi observado no tratamento analítico, entre o paciente e o médico como relação emocional especial porque vaia além dos limites racionais, variando de devoção e admiração até inimizade e hostilidade, sendo considerada, portanto, tanto positiva como negativa, um poderoso instrumento terapêutico desempenhando papel relevante no processo de cura.
Ela também ocorre na relação professor-aluno e nos permite refletir sobre o que possibilita ao aluno acreditar no professor e chegar a aprender. É um poderoso instrumento no processo de aprendizagem e é uma contribuição essencial da Psicanálise à educação.
A aprendizagem, que é um processo que vem junto à cultura, das práticas sociais no meio, passada a princípio pelos pais, é também passada pelas instituições, como exemplo as creches e escolas. E é a partir disso que se constrói um lugar de interação entre aquele que ensina e aquele que aprende.
O mestre (professor) deve então ser um mediador que faz todo um exercício profissional que se estende sob uma rede imaginária e simbólica que liga, articula, organiza, valoriza, prestigia e, portanto, atribui significação à prática individual de seus participantes (alunos). Nessa relação dos professores com sua função, com o saber e com o ensinar, ocorre um processo de transferência com o aluno, uma relação marcada pelo desejo tanto de um lado quanto de outro. E é através disso que há a possibilidade da transmissão dos conhecimentos, desse desejo de passar o saber aos seus alunos.
Educação, impulsos sexuais e sublimação
Observam-se aspectos flexíveis na sexualidade humana. Um impulso sexual não possui fixação e o objeto de satisfação é indiferente podendo ser uma mulher, ou uma parte de seu corpo, no caso da mãe que o seio que satisfaz o filho, ou mesmo para os fetichistas, os pés por exemplo. O objeto é desviante, intercambiável e pode ser direcionado para fins não sexuais, como ocorre na sublimação.
A sublimação implica no desvio de uma pulsão do desejo diretamente sexual para um fim socialmente útil. Por intermédio do mecanismo de sublimação os indivíduos podem dedicar-se a atividades relacionadas à arte, a ciência, a promoção de valores humanos e de melhores condições de vida. Há um investimento de libido, mas esta energia sexual não é utilizada para a finalidade sexo. O prazer na realização de uma tarefa traz a marca sutil da origem sexual no empenho e na paixão com que alguns indivíduos se dedicam.
Com relação à sexualidade, inicialmente Freud associou a doença nervosa a uma educação moral repressora. As noções de pecado, pudor, vergonha inibiram os impulsos sexuais limitando seu desenvolvimento. A psicanálise pode contribuir com a educação delimitando uma de suas tarefas: conseguir o equilíbrio usando sua autoridade na correção educativa necessária, mas não de forma excessiva, o que traria maior sensação de desprazer. O limite dos impulsos sexuais seria o recalque, visando a preservação do indivíduo e de sue grupo.
É importante que o educador saiba utilizar a energia dos impulsos. No caso do voyeur é preciso fazê-lo contemplar o mundo e os objetos a sua volta, compreendê-los e estabelecer um novo saber que transforme curiosidade em desejo de conhecimento, em curiosidade intelectual. É fundamental que o professor não recrimine a criança (com pulsão de sucção) por levar à boca qualquer tipo de objeto, mas lhe forneça conhecimento, atividades lúdicas e artísticas, a fim de nutri-la intelectualmente. Esta é a proposta da psicanálise: utilizar as características e os instintos do indivíduo para fins úteis à sociedade mediante sublimação, fazendo com que o educador possa buscar com o educando o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades coletivas.
A educação deveria ser considerada um estímulo para a submissão do princípio do prazer ao princípio da realidade. Uma educação para a realidade teria como objetivo impedir o homem de permanecer na infância levando-o a enfrentar a vida.
CONCLUSÃO
A aplicação da psicanálise à educação
A Psicanálise pode ser útil aos educadores à medida que serve como fonte de compreensão do desenvolvimento psíquico e afetivo do ser humano. É uma abordagem que trata das questões do desenvolvimento psicossexual infantil, das relações da criança com a família, do educando com o educador, quando trata-se da transferência, bem como da economia psíquica do educador. A Psicanálise pode oferecer condições para o professor lidar com o aluno em sala de aula, na situação de aprendizagem, podendo levar a melhorias do desempenho das próprias funções.
Uma discussão interessante é a respeito da relação de autoridade em sala de aula, dos vínculos criados a partir dessa relação, na qual o educador deve renunciar ao controle aversivo sobre os educandos. Outra questão é até que ponto a relação transferencial entre professor e aluno está interferindo na aprendizagem, ou seja, no trabalho pedagógico como um todo.
O inconsciente exerce uma função no aprendizado do indivíduo, já que é para lá que alguns conteúdos irão, não ficando disponíveis ao consciente do aluno, de modo que ele não consegue expor certas idéias, embora estas tenham um simbolismo muito importante. Além de deixar o professor em um lugar de não saber se o aluno realmente aprendeu determinado conteúdo.
A noção de sujeito de desejo em psicanálise, segundo Maciel (2005), refere-se ao fato deste se relacionar não só com objetos de necessidade, mas também com objetos de desejo que passam pelos significados construídos nas interações que os sujeitos estabelecem entre si. É importante que se tome cuidado para não moldar a criança ao ideal do eu do educador, ou seja, os professores quererem modificar o aluno à sua imagem, tomando para si a função de modelo.
Outra contribuição da psicanálise à educação refere-se ao papel da educação como auxiliar da sublimação sexual, já que, para Freud, a curiosidade intelectual é derivada da curiosidade sexual. Mas, deve-se tomar certo cuidado para que o desvio pulsional não seja excessivo, inibindo o sujeito de desejo.
Um alerta é dado: o professor não tem controle total dos efeitos de suas palavras sobre os alunos, portanto, não saberá o que o aluno fará com aquelas idéias e com o que as associará. Dessa forma, se faz importante que o professor tenha conhecimento do poder de influência que exerce e das formas mais adequadas para lidar com isso.
REFERÊNCIA:
- Ministério da Educação e Cultura. Serviço de estatística educacional. Cuiabá: SEC/MT; Rio de Janeiro: FENAME, 1981. Disponível em http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=105836&te3=122199&te4=36676. 02/04/2009.
- CARRARA, Kester (org.). Introdução a Psicologia da Educação: Seis Abordagens. Editora: AVERCAMP. São Paulo, 2004.
- CUNHA, Marcus Vinícius da. A Psicologia na Educação: dos paradigmas científicos às finalidades educacionais. Revista da faculdade de Educação. V.24 n.2 .São Paulo. Jul/dez. 1998.
- MACIEL, Maria Regina. Sobre a relação entre Educação e Psicanálise no contexto das novas formas de subjetivação. Interface- comunicação, saúde e educação. v.9 n.17 mar/ago 2005.
- COUTINHO, Maria Tereza da Cunha & MOREIRA, Mércia. Psicologia da Educação: Um estudo dos processos psicológicos de desenvolvimento e aprendizagem humanos voltado para a educação. 10 ed. Ver. E ampl. – Belo Horizonte: Formato Editorial, 2004.
Assinar:
Postagens (Atom)